Tudo que você precisa saber para formular um detergente automotivo
O Brasil vibra com a paixão por carros, e um aspecto fundamental dessa relação é a busca incessante por um veículo impecável. A limpeza automotiva transcendeu a obrigação, tornando-se um verdadeiro hobby para muitos, que dedicam seus finais de semana a ver seus "brinquedos" brilhando e cheirosos. Esse entusiasmo impulsionou o surgimento de um mercado especializado e cada vez mais técnico, repleto de produtos que prometem a higiene e a beleza dos automóveis.
Em meio a uma vasta gama de opções – silicones para painel, pretinhos para pneus, embelezadores de caixa de roda, APCs, higienizadores de ar condicionado, ceras, polidores, desengraxantes, cristalizadores, limpa para brisas, detergentes para o esguicho, limpa vidros antiembaçantes e odorizadores – existe um protagonista: o famoso "shampoo" automotivo.
Neste artigo, mergulharemos nas nuances técnicas por trás de uma formulação equilibrada e funcional, que atenda ao desejo primordial dos fabricantes: uma excelente relação custo-benefício.
Para melhor compreensão dos conceitos que serão abordados, recomendamos a leitura prévia do nosso artigo sobre detergentes lava-louças, onde estabelecemos fundamentos essenciais para o desenvolvimento de qualquer formulação detergente que demande espuma e viscosidade.
Partindo dos princípios já elucidados, podemos afirmar que um Detergente Automotivo (termo tecnicamente mais adequado para esta classe de produto), nada mais é do que uma adaptação do conceito do detergente lava-louças. Sua composição base é similar, porém enriquecida com ingredientes específicos para atender às demandas particulares da limpeza veicular.
Mas, afinal, quais são essas características técnicas cruciais para um bom detergente automotivo?
Garantindo brilho intenso
O brilho é o resultado da reflexão da luz em uma superfície. Quanto mais lisa e uniforme for essa superfície, mais raios de luz serão refletidos na mesma direção e ângulo, intensificando o brilho percebido. Em contraste, superfícies irregulares dispersam os raios de luz, diminuindo o brilho.
A aplicação de ceras, por exemplo, promove o brilho ao preencher as micro-irregularidades da pintura, tornando a superfície mais homogênea e favorecendo a reflexão uniforme da luz.
No entanto, a crença de que adicionar cera diretamente à formulação do shampoo automotivo potencializará o brilho nem sempre se concretiza. Isso ocorre principalmente devido à alta concentração de tensoativos aniônicos (como o ácido sulfônico e o lauril éter sulfato de sódio) presentes na formulação, que possuem alta solubilidade. Essa característica faz com que a cera fique emulsionada e com baixa capacidade de aderir à superfície do veículo. Mesmo que uma pequena porção de cera consiga aderir, ainda seria necessário um polimento para uniformizar a superfície e, consequentemente, gerar o brilho desejado.
Em alguns casos, silicones autonivelantes poderiam ser considerados para promover o brilho sem a necessidade de polimento. Contudo, eles tendem a ser antiespumantes e de difícil estabilização em formulações aquosas, comprometendo a solubilidade geral do produto.
Então, como fazer para que tenhamos um produto que proporcione o brilho?
A melhor abordagem técnica para um detergente automotivo que realmente entrega brilho reside em sua capacidade de limpeza profunda, enxágue fácil e ação antirredepositante. Resíduos do próprio produto mal enxaguado ou sujeira não removida deixam a superfície irregular, prejudicando o brilho final.
Portanto, o caminho ideal é formular um produto facilmente enxaguável (reduzindo a concentração de aminas como betaínas e amidas) e incorporar um dispersante eficaz, como o Poliacrilato de Sódio. O dispersante desempenha um papel crucial ao garantir que a sujeira removida (fuligem, poeira, barro) durante o escorrimento da espuma não se redeposite na lataria limpa. Ao manter a superfície livre de partículas sólidas, sua regularidade é preservada, e o brilho natural do veículo é realçado.
Além disso, um bom dispersante atua como um agente anti-spotting, prevenindo aquelas manchas brancas difíceis de remover que podem surgir caso gotas de água sequem sobre a superfície. Isso ocorre porque a água contém minerais e outras substâncias que, ao secar, aderem à pintura. A presença do dispersante minimiza significativamente esse problema.
Quer garantir um brilho ainda mais intenso?
Para um resultado de brilho superior, a sugestão é oferecer ao cliente um produto abrilhantador específico para ser aplicado após a lavagem. Uma emulsão aquosa de óleo de silicone com baixa concentração de tensoativos é uma excelente opção nesse caso. Clique aqui para conhecer.
Espuma: percepção de valor e ferramenta de limpeza
A espuma é, sem dúvida, uma das características mais desejadas em um detergente automotivo, por dois motivos principais:
- Percepção de Valor: Para o consumidor, a abundância de espuma muitas vezes é associada à alta eficiência de limpeza. Embora essa correlação nem sempre seja verdadeira (ingredientes excessivamente espumógenos podem ser inadequados para a aplicação), a espuma cria uma forte percepção de valor.
- Tempo de Contato: Tecnicamente, a espuma desempenha um papel fundamental ao aumentar o tempo de contato do produto com a superfície do veículo. Uma espuma densa e estável escorre mais lentamente, permitindo que os agentes de limpeza ajam por mais tempo sobre a sujeira, otimizando a remoção.
Para obter uma espuma farta e densa, a chave reside na combinação estratégica dos tensoativos da formulação. Como já discutido no artigo sobre detergentes lava-louças, a relação ideal de 70%/30% entre o Ácido Sulfônico e o Lauril Éter Sulfato de Sódio para a base da formulação se mantém relevante.
Para aprimorar a estabilidade e a densidade da espuma, a adição de Coco Amido Propil Betaína ou Dietanolamida de Ácido Graxo de Coco é valiosa. No entanto, é crucial respeitar um limite na concentração desses ingredientes, pois o excesso pode levar à sua aderência na superfície, dificultando o enxágue e comprometendo o brilho final.
A qualidade da espuma durante a aplicação também depende da proteção dos tensoativos aniônicos (sulfônico e lauril) contra íons de cálcio (Ca), magnésio (Mg) e ferro (Fe) comumente encontrados na água. Para isso, a utilização de sequestrantes é essencial. O EDTA é um sequestrante amplamente utilizado, mas alternativas mais sustentáveis, como o Dissolvine GL47-S da Nouryon (distribuído pela Macler no Brasil), estão disponíveis no mercado. Clique aqui e conheça esta solução.
Performance de limpeza: desengraxe e ação antirredepositante
Os tensoativos não iônicos, preferencialmente com HLB (Balanço Hidrofílico-Lipofílico) entre 11 e 13, são componentes cruciais para a performance de limpeza de um detergente automotivo. Esses tensoativos geralmente apresentam excelente capacidade de desengraxe.
Adicionalmente, sua porção etoxilada contribui para a capacidade dispersante da formulação, auxiliando na remoção de partículas sólidas como poeira, barro e fuligem. Portanto, para um produto de alta performance, a inclusão de um tensoativo não iônico com essas características é fundamental. Ele atuará na remoção de sujidades oleosas em um primeiro momento, mas também penetrará e removerá o traffic film.
O traffic film é um tipo de sujeira complexa, resultante da combinação de poeira, asfalto, resíduos de combustão, chuva e outras impurezas ambientais. É um dos principais obstáculos para o brilho da pintura, sendo uma das sujidades mais difíceis de remover. A ação sinérgica dos tensoativos não iônicos e de um bom dispersante é essencial para combater eficazmente o traffic film. Um exemplo de tensoativo não iônico de alta performance, superando em eficiência e custo o Nonil Fenol 9,5EO e o Álcool Laurílico 7EO, é o Berol 175, fabricado pela Nouryon e distribuído pela Macler no Brasil. Clique aqui para saber mais.
Isogen PRO-D: tecnologia e solução
As informações apresentadas até aqui refletem as tecnologias e práticas de formulação mais difundidas no mercado. No entanto, o cenário está em constante evolução, com o surgimento de novas tecnologias, moléculas e blends de tensoativos que oferecem uma excelente relação custo-benefício, otimizando tanto o desempenho técnico quanto o resultado financeiro.
Nesse contexto, destaca-se o Isogen PRO-D, fabricado pela Macler. Trata-se de uma base sinérgica de tensoativos que elimina a necessidade do uso individual de Ácido Sulfônico, Lauril Éter Sulfato de Sódio e Coco Amido Propil Betaína ou Dietanolamida de Ácido Graxo de Coco.
O Isogen PRO-D demonstra uma eficiência superior em comparação com esses ativos tradicionais e simplifica significativamente o processo de fabricação, tornando-o mais ágil e reprodutível.
Formulação Core
Ao compreender a ciência por trás do "shampoo" automotivo, os fabricantes podem criar produtos que não apenas limpam, mas também revelam o brilho e a beleza que os apaixonados por carros tanto valorizam.
Assim como fizemos para o detergente lava-louças, apresentamos aqui um guia prático para os formuladores, com indicações de dosagens e opções de produtos para o desenvolvimento de formulações de detergentes automotivos de alta performance.
Clique no banner abaixo e faça o download da formulação core.
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